A consciência dos animais é um tema marginal na história da filosofia ocidental. Algunsautores, no entanto, aventuraram-se em desbravar a temática. O mais paradigmático representantedessa tradição, René Descartes, erigia nos anos de 1630 um debate acerca da insensibilidade animalque perduraria por toda a modernidade. Quatro séculos mais tarde, o filósofo alemão Hans Jonasdesignaria a ciência materialista como a herdeira mais bem-sucedida do dualismo cartesiano. QueDescartes tenha exercido tamanha influência sobre a ciência moderna, contudo, não é um pontopacífico. Teria Jonas recorrido (...) em uma leitura equivocada de Descartes ao atribuir ao filósofo francês apaternidade do materialismo? A fim de responder essa indagação, realiza-se uma pesquisa bibliográficade caráter analítico, cujas fontes principais giram em torno dos textos cartesianos, bem como da análisejonasiana do dualismo. Desse modo, o presente artigo analisa a visão jonasiana da tese da bestamáquina através de um escrutínio de sua argumentação e das referências diretas dos escritos deDescartes. (shrink)

As últimas décadas têm testemunhado uma profusão de teorias filosóficas que buscam reconhecer a moralidade de uma categoria tradicionalmente compreendida como neutra: os animais. Destituída de qualquer valor, a existência não-humana senciente foi deixada de lado por grandes nomes da ética ocidental (de Aristóteles a Kant), cujas teorias colocava-os, muitas vezes, sob o mesmo status de mera matéria destituída de vida. Contudo, desde o século XVIII, sobretudo na Inglaterra, os animais passaram a fazer parte do escopo compreendido por um sem-número (...) de teorias éticas comprometidas com o desafio de lidar com a problemática relação imposta entre humanos e animais. Partindo de um postulado comum – um agente é moralmente relevante se dispõe do maquinário biológico necessário para a produção de sensações agradáveis ou desagradáveis – tais percepções falham em reconhecer a existência de outros seres carentes de proteção moral: as árvores, plantas e uma infinidade de organismos com sistema nervoso central particularmente rudimentar para entrar dentro do cálculo utilitarista, cuja existência encontra-se igualmente ameaçada pelo poder de ação humana. Tendo esse desafio como norte, o presente artigo busca, a partir da teoria ética de Hans Jonas voltada aos animais, uma alternativa de proteção da vida extra-humana e da biosfera. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de caráter analítico, cuja fonte principal circula, sobretudo, em torno de duas grandes obras do filósofo: O Princípio Vida e O Princípio Responsabilidade. Assim sendo, pergunta-se: em que medida a teoria da responsabilidade jonasiana oferece fundamentos para pensar uma teoria ética para os animais não-humanos, ao mesmo tempo que não exclui da esfera moral outros seres vivos? Tal problemática certamente precisa operar sob a perspectiva de uma filosofia da natureza, para então estabelecer um alicerce teórico sobre o qual se possa construir uma ética animal. Para tanto, o texto divide-se em três seções: a) primeiro analisa-se a pertença humana no reino natural, possibilitada, segundo Jonas, graças ao sucesso do darwinismo enquanto narrativa descritiva da realidade biológica; b) passa-se então para uma análise da ontologia da natureza de Jonas compreendendo desde a mais primitiva existência unicelular ao mais desenvolvido degrau da vida animal; c) para então desembocar em uma teoria ética da responsabilidade que compreenda tanto a existência humana, quanto a não-humana. Em seu degrau ascendente de valor, a vida reivindica uma responsabilidade em determinados níveis, tendo a existência animal, com o dramático aparecimento das sensações, mobilidade, medo e desejo, uma reivindicação mais ampla em relação aos modos mais primitivos de manifestação da vida. (shrink)

The notion of a proposition is central to philosophy. But it is subject to paradoxes. A natural response is a hierarchical account and, ever since Russell proposed his theory of types in 1908, this has been the strategy of choice. But in this paper I raise a problem for such accounts. While this does not seem to have been recognized before, it would seem to render existing such accounts inadequate. The main purpose of the paper, however, is to provide a (...) new hierarchical account that solves the problem. (shrink)

This chapter challenges Cantor’s notion of the ‘power’, or ‘cardinality’, of an infinite set. According to Cantor, two infinite sets have the same cardinality if and only if there is a one-to-one correspondence between them. Cantor showed that there are infinite sets that do not have the same cardinality in this sense. Further, he took this result to show that there are infinite sets of different sizes. This has become the standard understanding of the result. The chapter challenges this, arguing (...) that we have no reason to think there are infinite sets of different sizes. It begins with an initial argument against Cantor’s claim that there are infinite sets of different sizes and then proceeds, by way of an analogy between Cantor’s mathematical result and Russell’s paradox, to a more direct argument. (shrink)

This paper offers two competing accounts of normative requirements, each of which purports to explain why some—but not all—requirements are normative in the sense of being related to normative reasons in some robust way. According to the reasons-sensitive view, normative requirements are those and only those which are sensitive to normative reasons. On this account, normative requirements are second-order statements about what there is conclusive reason to do, in the broad sense of the term. According to the reasons-providing view—which I (...) attribute to John Broome—normative requirements are those and only those which constitute or provide normative reasons. I argue that the reasons-providing view is susceptible to two serious objections. First, the view generates an explanatory gap. Secondly, the view is implausible. I argue that these two objections give us reason to prefer the reasons-sensitive view of normative requirements over the reasons-providing view. (shrink)

El pasado 23 de agosto murió el filósofo francés Jean-Luc Nancy, quien deja tras de sí no solo una obra extensa, sino toda una vida dedicada al pensamiento filosófico que ha sido determinante para el curso de la filosofía contemporánea. Jean-Luc nos deja sus escritos, así como la memoria de su generosidad y pasión por el pensar en común.

Marcus Aurelius reigned from 161 A.D. to 180 A.D., and he ranks among the most successful emperors of the antonine dynasty. The success of his administration may be attributed to his philosopher personality and, more than that, to his stoic character. Meditations presents thoughts of a stoicism devotee, which reflects in moments of intimacy on the challenges that he faced throughout his life as an emperor. It is in the practice of the ethical precepts of stoicism that he finds his (...) refuge. The text consists of a series of spiritual exercises which reaffirm the indifference to pleasures, contempt for fame, detachment from riches and abnegation for political power. This paper is a study of Meditations, and its main purpose is to elucidate how the stoic way of life is incorporated in the figure of the philosopher emperor; this, as a military function, as he was a commander of the Roman army in the war against the Nordics, where political virtue was tested. Amid the chaos of an insane struggle for the survival of Rome, he found in stoicism a precious source of inspiration. Marcus Aurelius was not dazzled by the cult of the emperor's personality; he acted for the natural right to freedom and guided his political actions for the common good. His stoic perseverance reveals itself in a harmonious conduct with the city, the rational and cosmic organism from which the emperor is a simple part. (shrink)

A crítica de Platão à escrita se situa em meio ao conflito entre o mundo oral e a cultura escrita. Platão escreveu diálogos que são claramente o retrato de discussões que ocorreram na vida real, tenham ou não acontecido verdadeiramente. Os Ensaios de Montaigne, por outro lado, são monólogos que estabelecem uma interlocução com o leitor. Ambos tentaram de alguma forma superar a artificialidade da escrita trazendo ao texto a mesma versatilidade e vivacidade do discurso oral. Montaigne escreveu em uma (...) época na qual muitas obras em forma de diálogo circulavam, sendo então um gênero literário conhecido e influente na sua época. Os Ensaios emergem no contexto histórico do Renascimento com uma originalidade sem precedentes. Seria admissível julgar o estilo ensaístico de Montaigne como um novo gênero literário produzido com a pretensão de superar a forma de diálogo?Palavras-chave: Platão. Montaigne. Diálogo. Ensaio. Estilo. (shrink)

La philosophie du langage issue du tournant linguistique peut paraitre depassee par la philosophie de l'esprit et les approches cognitivistes. Ce second volume des Textes-cles de philosophie du langage vise, comme le premier, a montrer au contraire la vitalite et la radicalite de la reflexion sur le langage produite au XXe et au XXIe siecles. Le premier envisageait le rapport du langage au monde, les manieres dont le langage peut dire les choses (et le vrai); le second presente diverses manieres (...) de considerer que le langage fait des choses en disant, met en relation des humains dans des contextes, au sein d'une forme de vie humaine et sociale. D'ou le renouvellement des analyses du langage et l'emergence d'une nouvelle discipline, la pragmatique, qui prend en compte des elements du fonctionnement linguistique oublies par les conceptions strictement veri-conditionnelles. Cette philosophie du langage, fondee sur la description des usages ordinaires et la mise en evidence de la dimension praxeologique du langage, n'a cependant pas renonce a la visee realiste du tournant linguistique. On verra que la philosophie du langage ordinaire, dissidente par rapport a la philosophie analytique classique, attentive aux usages et situations, recherche, perfectionne et raffine l'adequation au reel, poursuivie desormais en termes de sensibilite au detail du reel. (shrink)

La philosophie du langage issue du tournant linguistique, apparue avec Frege a l'oree du XXe siecle, peut paraitre depassee de nos jours par la philosophie de l'esprit ou le cognitivisme. Ce volume vise a illustrer au contraire la vitalite et la radicalite des premieres theories de la signification et de la reference. Il parcourt, a travers une serie de textes devenus classiques, l'evolution de la problematique de la signification, sa definition comme mode de presentation de la reference, son explosion avec (...) la these d'indetermination de la traduction. Il analyse les relations du sens avec la verite - selon qu'il en formule les conditions, ou qu'il informe notre approche du monde. Dans les textes de ce volume, c'est l'articulation du langage au reel, du mot a la chose, qui apparait comme l'objet de la philosophie du langage et le lieu de son actualite. (shrink)

Esse artigo é um resumo de uma tese de doutorado iniciada em 2017 que tem como objetivo analisar onze filmes do gênero documentário que abordam a liderança política de Luiz Inácio Lula da Silva ao longo de sua trajetória no cenário nacional. Discuto, entendendo os documentários como fontes narrativas, o tipo de liderança política de Lula nos momentos específicos de suas produções, analisando esteticamente como ele foi representado pelos diversos diretores. Como objetivo específico, busco identificar traços do fenômeno político discutido (...) academicamente intitulado como “Lulismo” presentes nos filmes selecionados. Além da revisão bibliográfica necessária para confecção desse trabalho, utilizei a análise fílmica proposta por Vera Chaia e a Hermenêutica de Profundidade, utilizada por John Thompson em “Ideologia e Cultura Moderna”. (shrink)

In the past quarter century C. B. MacPherson's reading of Locke has enjoyed a wide appeal. We are all by now familiar with Locke as the ardent proponent of possessive individualism, with its accompanying acquisitive tendencies and egoism. To be sure, MacPherson's interpretation has not gone unopposed. Of late it has been challenged in all its fundamentals by the scholarly and ingenious work of James Tully. Far from seeing Locke as providing the theoretical underpinnings for unbridled capitalism, Tully puts forward (...) the view that Locke was sympathetic to the possibility of radical redistributive measures. That is, that he was not in principle opposed to rights to welfare. (shrink)

The 2018 SCE meeting focused on the theme “Retrospect and Prospect” in order to build greater understanding of the discipline of Christian ethics in its varied cultural, methodological, and confessional forms. Latino/a ethics in the United States, by embodying a cooperative methodology grounded in a liberative reading of the Christian Scriptures that employs a hermeneutics of suspicion, seeks to articulate an emancipatory and inclusive vision that yields distinctive forms of social and political action while working toward the common good. This (...) essay provides a brief introduction to and history of Latino/a contributions to the field of Christian ethics, defines key themes that unite its various proponents, and identifies future trends. (shrink)

Is it possible to have a materialist definition of the subject which nonetheless separates the latter from any given type of object? In this article I start from the criticism – which both Alain Badiou and Gilles Deleuze provide – of the identification of the subject with a given type of substance, provided with specific modes of correlation with other objects. Namely, I try to show how for both authors the identification of the subject with a res – be it (...) the res cogitans, the human animal, or even the conditions of the possibility of experience of the latter –, pins down the subject to a specific place and function, and in this way ultimately provides a representation of the subject as a specimen of a given category of objects. More precisely, the identification of the subject with a specific class of objects is exposed by Deleuze as the very structure that tends to reduce the transformative capacity of the latter into the limits of a finite form; in a similar way, Badiou exposes this identification as one of the fundamental features of reactionary ideology. The article also shows how it is in this sense that one needs to read Deleuze’s refusal of the subsumption of the subjective process under the sole name ‘subject’, especially when the latter is identified with the cognitive structures of the human animal. Aiming nonetheless at maintaining a materialist definition of the subject, both authors stress the idea that the subject is an always singular process in which a new figure is created via a process of disidentification from a specific class of objects. This article then follows in particular three formal characteristics that Deleuze and Badiou find for the subjective process: first, that a subject appears as (or under condition of) a fracture or an inconsistency in the mode of organization of a class of objects; second, that a subject tends to turn such an evanescent fracture into a new body; and finally that a subject exposes such moments of disidentification and of production of novelty as being infinitely repeatable and universally valid. Starting from this, the article concludes by identifying a set of internal limits and contradictions in Badiou’s and Deleuze’s positions (namely a re-naturalization and re-anthropologization of the category of the subject) and by highlighting a series of developments in contemporary philosophy that allow the further elaboration of further the idea of the subject as an always singular (and yet universally repetable) practice of disidentification from a specific class of objects. (shrink)